sexta-feira, setembro 12, 2008

O Olhar


(foto: Gonçalo Silva)


Agora percebo porque alguém disse que "os olhos são o espelho da alma".
Esbarrei em ti, no virar de uma esquina.
Fiquei vidrada num olhar que me penetrou a alma.
Olhar doce, meigo, sincero, puro.
Nunca me tinha apercebido que tal olhar existia.
Por momentos senti-me desconfortável e envergonhada por não conseguir ter tamanha profundez nos meus.
Olhos castanhos, pestanas longas como as de uma criança inocente.
Quis que esse olhar fosse meu, esse olhar que me seduzia incansávelmente e que me pedia que desesperadamente te confortasse.
Vacilei, tremi e... desviei o meu olhar criando uma barreira invisivel.
Fi-lo por não querer perder da minha memória a beleza que deles vinha.
Hoje, uns anos mais tarde, ainda recordo aquela esquina.

segunda-feira, setembro 08, 2008

Que vida esta


Sentada no escuro, percorro o olhar pelo vazio que me rodeia.

Sinto-me só.....tão só.

Nem a luz do candeeiro antigo, preso toscamente no fim da viela me consegue iluminar a alma.

Olho pelo intervalo da cortina desfeita e a cheirar a bolor, a noite.

Corre um brisa fria, mas suave.

A lareira ainda fumega uns restos de jornal queimado.

Que quadro !!!!

Dou uma volta naquilo a que chamo leito, um pedaço de madeira comida pelos bichos com um colchão podre, já com molas partidas que me magoam o corpo magro e cansado.

Enrolo-me cuidadosamente num trapo a que chamo lençol, enquanto bato os dentes de frio.

Que vida esta.

E sonho.

Não...não me queixo.

Pelo menos tenho um tecto para me abrigar.